quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Aquarius | Crítica | Filme



Aquarius (2016)
País: Brasil, França
Classificação: 18 anos
Estreia: 1 de Setembro de 2016
Duração: 141 min.
Direção: Kleber Mendonça Filho
Roteiro: Kleber Mendonça Filho
Elenco: Sônia Braga , Julia Bernat

Aquarius é um filme meticuloso, bem estruturado e tão rico que é difícil fazer uma crítica a sua altura, mas vamos lá...

A trama conta a história de Clara (Sônia Braga), uma jornalista aposentada e audaciosa que está disposta a lutar contra incorporadores que tentam derrubar o pequeno edifício onde ela reside, o Aquarius, e no lugar deste construir um belo e impetuoso arranha-céus, na Orla da praia de Boa Viajem.

Ela é a única moradora do prédio e vive ali há muitos anos, criou os seus filhos naquele local, tem toda uma história com aquele edifício, cultivou memórias e não está nenhum pouco disposta a deixar o Aquarius.

Uma das coisas mais belas do filme é sem sombra de dúvidas a sua trilha sonora, a música se intercala com os acontecimentos da trama, combinando a letra com os fatos. Dentre os cantores/bandas que podemos encontrar estão Gilberto Gil, Alcione, Aviões do forró e Queen.

Outro ponto que vale ser ressaltado é a questão das memórias, como citado anteriormente, Clara viveu naquele edifício durante muito tempo, e o diretor Kleber Mendonça conseguiu executar isso de forma intrínseca no filme; as estantes cheias de discos, os móveis e suas histórias, os álbuns de fotos, cada detalhe do apartamento faz parte da vida de Clara. É um grande trunfo que o cineasta manifesta de forma primorosa.

A cena de entrada de Sonia Braga, onde uma das primeiras coisas que ela faz é mexer no cabelo, mostra ali uma mulher forte que sobreviveu ao câncer, já que sua personagem nos é apresentada no início da trama como uma jovem de cabelos curtos que luta contra essa doença.

Sem contar a interpretação de Sônia que está incrivelmente brilhante, sua atuação logo nos faz se apaixonar pela sua personagem, que começa a ser apresentada de uma forma discreta e de acordo com os fatos ocorridos ela vai demonstrando ser uma pessoa forte e resistente. E essa resistência é a mesma que o movimento Ocupe Estelita (clique aquifez em 2014 condenando a venda ilegal de uma área do porto de Recife. Página no Facebook 

O filme faz uma grande analogia as abordagens políticas, as hipocrisias, a corrupção, a pressão do capital privado, a especulação mobiliaria, o modo como a empreiteira haje no filme; vemos também a questão da desigualdade social, em uma cena onde a mulher branca de classe média (Clara) vai visitar a casa da empregada, a câmera puxa back e vemos o contraste dos prédios impetuosos ao fundo com a casa humilde da empregada domestica no primeiro plano, o elitismo também está presente na obra de Mendonça. Sem contar que Aquarius foi filmado em Recife, com alguns atores locais, mostrando um lado totalmente urbano do nordeste, diferente do que algumas pessoas especulam como é a região.

A fotografia do filme também está impecável, o estilo dos anos 80 apresentado no início da trama nos faz se sentir como se o filme realmente fosse gravado naquela época, você é capturado pelo impacto visual da obra.

Em suma, Aquarius é um filme bastante sazonado, com uma protagonista enigmática, com um dos melhores elenco de apoio que já vi e um roteiro com excelentes diálogos ao longo da projeção. Podemos dizer que o filme de Kleber Mendonça é uma obra de arte pura e profunda.






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